De dentro do apartamento de Gabrielle Chanel, um painel de laca chinesa inspira a coleção que celebra os ateliês da alta costura francesa
“Gabrielle Chanel nunca viajou a Hangzhou. A maison finalmente irá até lá.” Com essa frase, o diretor Wim Wenders encerra o filme de 3 minutos que registra, de forma ficcional – e muito bela, claro –, a descoberta do lugar, que foi cenário do desfile e tema da coleção Métiers d’Arts 2024 da Chanel na China, revelada no dia 3 de dezembro.
Embaixadoras da maison, as atrizes Tilda Swinton e Xin Zhilei, além da cantora Leah Dou, participam do curta, que revela as belezas do Lago Xihu, que fica na cidade murada de Zhengzhou, na China – e que foi inscrito em 2011 como Patrimônio Mundial da Unesco.
E por que Zhangzhou? De que forma a China inspira a coleção anual da Chanel, criada para celebrar a excelência do savoir-faire da alta costura francesa? Siga na lista abaixo para ficar por dentro de tudo.
Biombos na rue Cambon
Ao longo da vida, Gabrielle Chanel teve mais de vinte biombos de laca de coromandel. Uma das peças mais impactantes é um painel que retrata o Lago Xihu, e que decora o escritório de seu apartamento na rue Cambon, em Paris, cuja disposição e décor são preservados até hoje desde a morte da criadora, em 1971. A laca chinesa é apreciada pela técnica minuciosa e pela beleza dos motivos decorativos – fator que conversa em pé de igualdade com o estilo que Chanel imprimiu no fazer moda.
A influência de Boy Capel
Como diz o filmete da coleção: Gabrielle, ela mesma, nunca esteve na China. Sua admiração pelas paisagens orientais, além da literatura e da poesia, era mais uma das paixões que ela compartilhava com Boy Capel. O jogador de polo e duque de Westminster, também conhecido como o grande amor da vida de Chanel, influenciou o trabalho da criadora de diversas maneiras. Uma delas foi ao apresentar a ela o universo estético oriental.
O lago Xihu
Hangzhou foi fundada no ano de 606. Seu “lago do oeste” é um ponto turístico famoso por inspirar poetas e pensadores. Há ilhotas, pagodes, pontes, templos. O trabalho paisagístico inspirou a jardinagem em toda a China. O lago Xihu também guarda um certo ar de mistério, que aparece na coleção.
A seda
A cidade de Hangzhou é conhecida como pólo industrial por um lado, e, por outro, como detentor dos saberes milenares da manufatura da seda. A coleção, evidentemente, promove um mergulho brilhante nesse material nobre, seja em vestidos de noite que a marca define como românticos e sensuais, seja nos casacos de proporções diversas.
Painel de inspiração
A maison leva os elementos do painel de coromandel a itens específicos da coleção, trabalhados minuciosamente por ateliês tradicionais da alta costura, como Maison Michel (chapéus), Lesage (bordados) e Massaro (sapatos). Nas cores, o rosa, o verde e o azul evocam o brilho da laca, enquanto o blue jeans remete à superfície do lago e os marrons e pretos, à madeira. O relevo da água, as flores e ameixeiras chinesas, os barcos, as pontes e paisagens estão em estampas, ou em citações, como nos bordados, nos plissados de seda, nos babados e volumes de vestidos, ou de tailleurs que exploram a incontornável silhueta Chanel.
Donata Meirelles é consultora de estilo, atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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