Carrie Bradshaw é a nova It Girl da Geração Z — e o TikTok tem tudo a ver com isso
- há 5 dias
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Com o retorno de And Just Like That e uma onda nostálgica que domina o zeitgeist digital, a protagonista de Sex and the City conquista um novo público e vira musa da Gen Z
Você abriu o TikTok nos últimos tempos e, entre vídeos de transições de looks, opiniões espertas sobre relacionamentos e takes sobre moda dos anos 2000, lá está ela: Carrie Bradshaw. A jornalista nova-iorquina vivida por Sarah Jessica Parker em Sex and the City voltou a ocupar os holofotes — mas não exatamente da forma como a geração original da série a conhecia. Agora, ela é um fenômeno do For You Page e um novo símbolo fashion e emocional para uma audiência que mal era nascida quando a série estreou.

O timing não poderia ser mais propício: a terceira temporada de And Just Like That, spin-off da clássica série da HBO, chega em breve. Mas o renascimento de Carrie vai além do comeback televisivo — ele responde a uma série de fatores culturais e estéticos que explicam por que a Geração Z está obcecada pela personagem. Spoiler: não tem só a ver com as roupas, mas elas também contam (e muito).
Um novo olhar sobre a neurose fashionista
A Geração Z vê Carrie Bradshaw com lentes diferentes das que moldaram a audiência dos anos 1990 e 2000. Hoje, sua neurose charmosa, suas reflexões existenciais sobre o amor e sua aparente contradição entre liberdade e dependência emocional são compreendidas de forma quase afetiva. Carrie virou meme, virou trend, virou arquétipo.
Nos vídeos que circulam no TikTok, ela é ao mesmo tempo inspiração estética e estudo de personagem. Looks com saia de tule e regata básica são recriados por criadoras de conteúdo. Cenas icônicas são reencenadas com legendas irônicas. E suas frases — às vezes geniais, outras questionáveis — são repostadas como quotes que misturam drama, afeto e autoconsciência.
A era do “girlhood estético” e o retorno do sentimentalismo
Carrie também incorpora uma estética que a Gen Z tem abraçado: a do girlhood com camadas. Estamos falando de um estilo feminino, lúdico, mas nada superficial. O guarda-roupa de Sex and the City — assinado por Patricia Field — vira referência direta para uma moda que é, antes de tudo, expressiva. Sapatos Manolo Blahnik, bolsas baguette e vestidos vintage estão entre os desejos atualizados dessa nova geração.
Mas não é só sobre o closet. É também sobre o direito de sentir. A personagem legitima o drama, o choro, o erro, a contradição e o recomeço. Carrie é romântica, impulsiva, impulsionada por grandes gestos e palavras ainda maiores — e isso, para a Gen Z, é libertador. Em uma cultura que valoriza o desapego e a racionalidade emocional, ela surge como a anti-heroína que dá voz à vulnerabilidade.
Carrie e a estética do “main character energy”
Não por acaso, vídeos com a hashtag #CarrieBradshaw somam milhões de visualizações. Eles reforçam um conceito adorado por criadores de conteúdo: o da “energia de personagem principal”. Andar sozinha pelas ruas de uma cidade com um café na mão, escrever sobre sentimentos em uma mesa iluminada por abajur antigo, vestir algo ousado demais para um evento qualquer… tudo isso é Carrie. E tudo isso é TikTok em 2025.
Conclusão: por que Carrie Bradshaw voltou?
Porque ela é, de certa forma, um espelho. Uma figura que se recusa a se encaixar perfeitamente. Uma mulher que tropeça, que sente demais, que tenta — com ou sem sucesso — ser autêntica. E em um mundo que valoriza tanto a performance da perfeição, talvez seja justamente por isso que Carrie Bradshaw voltou a ser tendência: por ser imperfeita, complexa e, acima de tudo, real.
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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