Um olhar insider sobre a coleção que celebra 10 anos do primeiro desfile resort de Nicolas Ghesquière para a maison francesa
Assim que vi a bolsa Petite Malle nas mãos de uma modelo durante o desfile que a Louis Vuitton fez essa semana em Barcelona, na Espanha, me lembrei: foi há exatamente 10 anos, assistindo ao primeiro desfile Cruise de Nicolas Ghesquière para a grife, em Mônaco, que avistei o modelo pela primeira vez. Com o shape de um pequeno baú, ele é mais que um acessório: é também um símbolo que prova como as ideias oferecidas pelo estilista ao longo de uma década à frente da Vuitton resistem ao tempo e nos lembram que, se hoje é comum que se escolham destinos especiais para desfiles Resort, a arte de viajar presente na história da maison francesa também a fez pioneira nessa prática (até para Kyoto eu já fui, só para assistir ao desfile Cruise 2018 da marca, apresentado no Miho Museum).
O lugar escolhido para a coleção Cruise 2025 foi o Parque Güell, de Antoni Gaudí, que ganhou o título de Patrimônio Mundial da Unesco em 1984, 70 anos após sua inauguração. Assim como o catalão Gaudí era tão arquiteto quanto artista, o francês Ghesquière é tão estilista quanto arquiteto – o que fica claro quando olhamos o trabalho escultural de modelagem pelo qual se tornou conhecido, e que desta vez aparece na alfaiataria moderna, pegando emprestadas as silhuetas de paletós e casacos dos anos 80 (uma década para a qual Nicolas costuma olhar com frequência).
A criatividade e técnica manual empregadas na construção dos famosos mosaicos de Gaudí também parece reverberar nas elaboradas superfícies têxteis que recobrem o look de paetês com motivos florais, cujos babados da saia fogem do óbvio ao fazer referência aos vestidos típicos da cultura flamenca, construídos em camadas.
A inteligência do estilista para contornar referências literais, aliás, é uma das melhores coisas sobre esse desfile. Ainda que a Louis Vuitton tenha uma história alinhavada com a Espanha (sabia que Georges Vuitton, filho do fundador da grife, venceu o prêmio da Barcelona International Exhibition em 1929?) e mantenha cerca de 1.800 artesãos em oficinas de couro na região da Catalunha, tudo é fresco e atual. Através do olhar de Ghesquière, os chapéus de herança espanhola vêm acompanhados de óculos de reflexo espelhado futurista, e os tradicionais poás em preto e branco são desconstruídos em peças que misturam transparências com painéis estruturados a partir de recortes na cintura – um show!
Segundo Pietro Beccari, o CEO da Vuitton, o que a cidade de Barcelona e a marca têm em comum vai além da história, mas mora na combinação do respeito à herança com a paixão pela criatividade.
Conheça a seguir os meus looks favoritos do Louis Vuitton Cruise 2025!
Donata Meirelles é consultora de estilo, atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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