O Retorno do Poulaine: Por que o Sapato Medieval Está Fascinando a Moda em 2025
- 16 de abr.
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O exagero voltou. Das passarelas da Saint Laurent aos delírios estilizados de Marc Jacobs e McQueen, o sapato de bico ultraalongado — o lendário poulaine medieval — ressurgiu como fetiche de temporada. Mas o que esse sapato, outrora símbolo de vaidade desmedida e rebeldia de costumes, pode nos dizer sobre o espírito da moda em 2025?

O poulaine surgiu na Europa medieval como uma declaração de opulência e distinção social. Com bicos que podiam ultrapassar 50 centímetros, o sapato era usado por nobres para sinalizar poder, luxo e também certo desdém pela funcionalidade. Proibido em alguns reinos por ser “imoral” ou “ridículo”, ele virou símbolo de uma aristocracia que queria performar diferença — mesmo que ao custo do conforto.
Em um momento em que a moda flerta com o grotesco, o lúdico e o anti-convencional, o retorno do poulaine faz total sentido. Designers como Anthony Vaccarello, Marc Jacobs e Sarah Burton estão explorando os limites do calçado como forma de expressão estética radical. É como se, em tempos de crise climática, hiperprodutividade e estética TikTok, o sapato bizarro voltasse como manifesto — desconfortável, sim, mas impossível de ignorar.
O que antes era vaidade aristocrática, hoje é ironia de passarela. O poulaine de 2025 é simultaneamente uma crítica e uma celebração do excesso. Usado em desfiles com styling quase distópico, ele questiona o próprio ideal de beleza. É quase um anti-sapato: incômodo, performático, teatral — e, justamente por isso, sedutor. Não à toa, ele tem sido chamado de “o salto alto do século XXI para quem já cansou do óbvio”.
Esse resgate não é novidade para a moda, que constantemente revisita momentos históricos para repensar o presente. O interesse pelos trajes medievais (já visto nos babados exagerados, mangas bufantes e corsets reimaginados) agora chega aos pés. E o que era símbolo de futilidade ou fetiche de elite vira comentário sobre um mundo que anda desequilibrado — e encontra, na estética do absurdo, um lugar de expressão.
O retorno do poulaine não é apenas uma escolha de estilo, mas um gesto de provocação. Um bico longo o suficiente para apontar o exagero do nosso tempo, e talvez até cutucar a moralidade fashion com um leve sorriso irônico. Porque na moda, como na história, os excessos dizem muito mais do que os silêncios.
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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