Em um mundo em crise, não há mais desculpas para qualquer adiamento
Moda e sustentabilidade, um casamento sempre anunciado e muitas vezes tratado como ligação eventual, ligeira. Até agora. Em um mundo em crise, não há mais desculpas para qualquer adiamento.
No momento em que a moda repensa conceitos, estratégias, meios de produção e comercialização, seu impacto ambiental surge como problema maior a ser encarado, discutido e necessitando de uma solução “para ontem”, baseada em integridade ambiental e ética social.
“Sustentabilidade nunca foi uma tendência de moda”, adverte Chiara Gadaleta, que se envolveu na questão há 13 anos, quando fundou o Ecoera, um movimento de consciência ambiental focado em moda, beleza, design e gastronomia. “A crise atual escancara a necessidade de transparência por parte das marcas, que terão de lidar com um consumidor mais consciente, inclusivo e diverso”.
Embaixadora do Pacto Global da ONU de incentivo a empresas para a adoção de políticas de responsabilidade social e sustentabilidade, ela avalia que políticas industriais de diminuição de resíduos e emissão de carbono, além de uma posição ética nas condições de trabalho, vão fazer diferença no ato da compra. “É importante dizer que não se trata da iniciativa de apenas uma ou outra empresa, e sim de um esforço de todo o setor.”
"Antes de comprar, é preciso saber qual a utilidade daquela peça na sua vida", Alexandra Farah
A jornalista inglesa Lucy Siegle, colunista de comportamento ético do jornal inglês “The Guardian”, se define uma “ex-fashionista” e investiga as relações entre moda e sustentabilidade desde o início da década passada, quando escreveu um livro sobre os impactos negativos da indústria, “To Die For: How Fashion Is Wearing Out the World” (De Morrer: Como a Moda Está Desgastando o Mundo, em tradução livre). Em um podcast em março, no final da semana de moda de Londres, Lucy disse que existe remédio para a “obesidade de roupas”, provocada pelo consumo desenfreado da onda fast fashion. “Antes de comprar, pense se você vai poder usar aquela roupa no mínimo 30 vezes”, aconselhou. Recentemente, em outro podcast motivado pelo distanciamento social por conta do novo coronavírus, ela avisou que o consumidor pós-pandemia terá de conjugar outros verbos além de “comprar”: “Reformar, alugar, emprestar, compartilhar, trocar…”.
A opinião é corroborada pela jornalista mineira Alexandra Farah, que atua no mundo da moda desde os anos 1990 e se voltou para a questão moda vs. sustentabilidade desde que modificou hábitos de vida ao se tornar vegana, cinco anos atrás. “Ser sustentável é ser educado”, resume. “Não é possível adotar uma alimentação vegana e continuar usando jaqueta de couro, mas eu continuo gostando de moda.”
Alexandra estabeleceu uma meta para si: construir um guarda-roupa de apenas 50 peças, em consonância com o atual movimento “tiny wardrobe”. Ela diz que será tudo com muito estilo e, sem dúvida, sustentável. “O início de tudo é a consciência social e ambiental, tanto do consumidor quanto do produtor. Antes de comprar, é preciso saber qual a utilidade daquela peça na sua vida, de onde ela vem, como foi produzida, qual o material utilizado, se envolveu algum tipo de trabalho ilegal, se houve crueldade com animais.”
Alexandra aconselha que as respostas a todas essas perguntas devam vir especificadas nas etiquetas das roupas, junto às especificações técnicas do produto e ao nome da pessoa que as produziu. “A moda sustentável e consciente deve valorizar a etiqueta mais do que nunca.”
Donata Meirelles é consultora de estilo, atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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