Com olhar afiado para descobrir novos nomes, Carollina Carreteiro, do ORA Art, vem fazendo a diferença na cena artística paulistana
No último domingo (01/12), Carollina Carreteiro apresentou o seu novo projeto, Ora Art, em São Paulo. Com o tema “Sobrecores”, a mostra reúne obras de 20 artistas, em exibição em um prédio na rua Líbero Badaró, centro da cidade – uma escolha cheia de significados, como você vai descobrir na entrevista abaixo.
A ideia do ORA é funcionar como uma galeria itinerante. Nesta primeira edição, que fica em cartaz até março de 2025, há trabalhos de Hélio Oiticica, Tunga e Antonio Dias ao lado de novos nomes da cena artística contemporânea brasileira. Assim como um detector de tendências para a moda, Carol é uma antena para a arte e vem ganhando elogios por dar frescor ao mercado com seu olhar afiado para descobrir jovens talentos.
A formação de Carol é multidisciplinar: estudou marketing, fotografia, cinema, artes cênicas e também gestão cultural. Nascida no Rio de Janeiro, ela passou por Madri, na Espanha, e Berlim, na Alemanha. Depois do mestrado voltado para o lado business, ela trabalhou na Art Rio e na plataforma Artsy e decidiu se estabelecer em São Paulo, inicialmente com a galeria Nonada.
Por aqui, gosta de frequentar o Mamãe Bar, que reúne os colegas de métier na Barra Funda, e a Soho House, perto da avenida Paulista, que exibe obras adquiridas com a ajuda da galerista. “Apesar de grandes artistas contemporâneos morarem no Rio, como a Beatriz Milhazes, o Ernesto Neto, o Luiz Zerbini, aqui é onde a agenda cultural acontece”, explica. Na conversa a seguir ela explica mais sobre o novo projeto.
Como você chegou ao formato do ORA?
A ideia é ser itinerante e unir artistas consagrados a novos nomes. E também ocupar espaços de relevância histórica. Esta edição acontece no prédio onde Anita Malfatti fez a exposição de 1917, que culminou na Semana de 22. Há uma plaquinha na porta, mas, a meu ver, esse é um lugar que deveria funcionar há tempos como um museu, como forma de preservar a nossa cultura.
E por que o tema cores?
Quando passei a me dedicar mais à espiritualidade, comecei a prestar atenção a sinais que despertavam algo em mim. Estudei o hermetismo, o misticismo cristão, o tarô e, mais recentemente, a cabala. Um aspecto da cabala fala sobre a vibração de cada cor e de como essas cores são espelhos para os nossos estados vibracionais. O tema cores é recorrente na arte, não queria fazer mais do mesmo.
Como pensou a montagem?
A expografia é feita de maneira cromática, vai do preto ao branco. Comecei com uma obra do Antonio Dias, um artista que é muito caro a mim. A obra da série “The illustration of art” é de 1972 e exibe dois quadrados com os números 1.0 e 1.1 em cada um, respectivamente. É todo preto, uma cor que contém as outras. É difícil transmitir uma ideia complexa de maneira simples e essa obra, como tantas dele, ressoam muito em mim. Fala das possibilidades da arte, de delimitação; abre caixinhas na nossa cabeça, sobre quem somos, ou o que acham que somos.
Que artistas novos têm chamado a sua atenção?
Acredito muito no Daniel Mello, que tem 26 anos e é de Porto Alegre, e faz pintura abstrata. Adoro o trabalho ao mesmo tempo intelectual, pop e delicado da Santarosa Barreto. E também da Flora Leite, que é bem conceitual. Para esta edição do ORA, ela desenvolveu um projeto para o quarto andar, onde há muitas cortinas, um elemento que concorreria com as obras expostas na parede. Então ali ela criou um aquário com caracóis que fazem referência às espirais das cortinas.
Já tem planos para o próximo Ora?
Já estou pensando no próximo tema. A ideia é fazer perto da SP Arte, em abril. Também quero levar o projeto a outros lugares, como Berlim, Paris e ao México.
Donata Meirelles é consultora de estilo, atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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